Este é um Blog educacional, dedicado a discussões acadêmicas sobre a Ecologia Evolutiva. Contém chamadas específicas relacionadas às disciplinas de Ecologia da Universidade Federal de Ouro Preto, e textos didáticos gerais.
Terça-feira, 7 de Dezembro de 2010
Seminário Turma 2010 Bacharelado - Evolução Humana

Universidade Federal de Ouro Preto

Disciplina: Evolução (BEV170)

Professor: Sérvio Pontes Ribeiro

Grupo: Alice Leite, Fernando Mathias,

Mariana Almeida, Walles Henrique

Evolução Humana

Origens dos Hominídeos

Humanos são classificados como primatas, grupo que surgiu a aproximadamente 65 milhões de anos no paleoceno simultaneamente à uma grande irradiação adaptativa dos mamíferos placentários. Evidências fósseis indicam que os primatas surgiram a partir de pequenos insetívoros terrestres noturnos e adaptados à vida sobre as árvores. Tornam-se os primatas primitivos. Durante o oligoceno os primatas passaram por mais uma radiação adaptativa que levou aos três principais ramos de primatas antropóides: Os macacos do novo mundo (Cebóides), Os macacos do velho mundo (Cercopitecóides) e os símios/humanos (hominóides). (Coppens, 1994)

A era dos símios assim chamada graças ao grande número e diversidade de hominóides foi um período de 25 milhões de anos até 6 milhões de anos AP. Durante esse tempo os diferentes tipos de símios variavam desde o generalizado e arbóreo Proconsul até o grande terrestre Gigantopithecus. Durante esse período de tempo, uma grande mudança climática ocorreu no leste e norte da África, levando à substituição das florestas tropicais por savanas no final do mioceno. Adaptações à essas novas condições ambientais resultaram em um retorno a vida terrestre por várias espécies de hominóides, bem como por muitos macacos do velho mundo. (Kennedy, 1980). Dentre esses hominóides, encontravam-se os ancestrais do homo sapiens, os hominídeos.

A linhagem hominóide divergiu em algum momento entre 5 milhões e 8 milhões de anos AP, formando os pongídeos, grupo que inclui os gorilas e chimpanzés modernos e seus ancestrais; e os hominídeos, humanos modernos e ancestrais.  Os hominídeos caracterizam-se pela locomoção bípede, dieta onívora e, posteriormente, pela capacidade craniana aumentada e organização social, considerada adaptações à vida nos campos abertos das savanas em vez das florestas protegidas.

Todavia, o habitat da savana é um dos fatos que torna o entendimento da evolução humana difícil, pois seus ossos estavam sujeitos ao intemperismo do sol e das chuvas além da erosão dos solos ácidos. Assim, o registro fóssil humano é muito menos produtivo do que a maioria dos outros grupos.

Os primeiros hominídeos devem ter vivido nas áreas de transição entre florestas e savanas. Tais transições entre dois ou mais tipos de ambientes são conhecidas como ecotonos. Já que um ecotono contém alguns componentes de ambos os ambientes adjacentes, é mais rico do que qualquer um dos dois sozinhos. Uma espécie vivendo em um ecotono, portanto, tem acesso a um farto conjunto de recursos;  neste caso, recursos da floresta e da savana (Campbell, 1983). Contudo, uma espécie vivente nesse local deve ter flexibilidade comportamental para que seja capaz de adaptar-se aos dois tipos de ambiente. A idéia de que a vida neste ecotono contribuiu para o desenvolvimento da bipedia, dos hábitos alimentares onívoros e da cefalização é amplamente aceita.

Desde 1974, a história evolucionária das origens humanas tem mudado rapidamente, remetendo o momento da primeira aparição de nossos ancestrais para 4,4 milhões de anos AP. Nessa época o mais antigo hominídeo conhecido era o Australopithecus afarensis, apelidados de “Lucy”, datada em 3,1 milhões de anos. Tinha apenas 1,1 metros de altura e pesava cerca de 30 quilos. Possuía uma mandíbula pronunciada, o cérebro semelhante ao de um chimpanzé e andava de forma ereta sobre pernas completamente estendidas. Outros remanescentes fósseis pertencentes à espécie de Lucy datam de 3,9 milhões de anos AP, talvez indicando uma estase evolutiva de 0,8 milhões de anos. Osso dos pés fossilizados de hominídeos recuperados na áfrica do sul, datam de 3 a 3,5 milhões de anos de idade e demonstram que a parte anterior do pé era adaptada ao bipedalismo, enquanto, o dedão era semelhante ao dos símios, adaptado à vida arbórea (Clarke & Tobias, 1995; Gore, 1996).

Talvez o mais importante dos achados fósseis tenha sido o dimorfismo que existia nesta espécie ancestral dos humanos sendo os machos consideravelmente maiores e mais robustos. Há especulações de que Lucy tenha sido um macho, já que sua pelvis não permitiria a passagem de uma criança. Esta perspectiva, junto aos estudos dos padrões de fluxos sanguíneos cerebral e medidas dentárias,adiciona mais combustível à fogueira de discussões sobre a possibilidade de que o pequeno A. afarensis possa ser, na verdade, uma espécie à parte.

A linhagem evolutiva humana não é completamente conhecida, sendo que os hominídeos descritos abaixo obedecerão uma ordem de acordo com o tempo em que estiveram na Terra, do mais antigo ao mais recente. Isso não significa que um hominídeo descendeu diretamente do outro.

Ardipithecus ramidus: Descobertos na Etiópia em 1992-1993 são os remanescente fósseis da mais e remota espécie de hominídeos (White et al., 1994; Fischman, 1994). Devido a sua idade, 4,4 milhões de anos, aproximando-se da era na qual hominídeos e pongídeos divergiram, alguns paleontólogos são audazes o suficiente para aclamá-lo como o tão procurado “elo perdido”. Apresenta muitas características semelhantes aos chimpanzés, entretanto é considerado bípede.

Australipithecus anamensis: Foi descoberto em 1995 no Quênia datado em 3,9 milhões de anos. O A. anamensis  é um excelente candidato a uma posição intermediária entre o A. ramidus e o A. afarensis. Era bípede, tinha massa corpórea estimada de 50 kg.

Australipithecus afarensis: Lucy, encontrado na região de Afar, na Etiópia, é o hominídeo pré-homo mais completo encontrado até hoje, consistindo de mais de 60 pedaços de osso do crânio, da mandíbula, dos braços, das pernas, da pélvis, das costelas e das vértebras. O depósito onde foi encontrada data de 3,2 milhões de anos. Apresentava baixa estatura (fêmeas 1 m, e machos 1,5m), volume cerebral entre 380 e 450 cm3 e eram bípedes. Os dentes e a mandíbula era claramente humanos e sua dieta devia ser rica em alimentos duros.

Australopithecus bahrelghazali: é um pouco mais jovem que A. anamensis e conteporâneo do A. afarensis. Foi encontrado em Chad, centro da África, em sítio fóssil interpretado como um ;ago na floresta. Foi o primeiro hominídeo encontrado a oeste da fenda de “Rift Valley”, o que sugere que os primeiros hominídeos estavam mais dispersos pela África e era mais diversos quanto aos seus habitats.

Australopithecus ghari: Datada em 2,5 milhões de anos foi encontrada na Etiópia. Alguns cientistas a consideram o elo perdido entre os gêneros Australopithecus e Homo. Primeira espécie a se alimentar de carne a usar ferramentas.

Australopithecus africanus: Antes de se tornar extinto, há cerca de 3 milhões de anos, o Australopithecus afarensis possivelmente deu origem a, pelo menos, 3 novas linhagens: Australopithecus africanus, Paranthropus robustus e P. boisei. As duas últimas espécies às vezes agrupadas no gênero Australopithecus, tornaram-se extintas entre 1 milhão e 1,5 milhão de anos AP, aparentemente exercendo papel algum na sequência evolutiva humana. A linhagem do africanus, entretanto, é significativa, porque alguns cientistas acreditam que ela deu origem ao maior dos passos na evolução humana, o Homo habilis, entre 2 milhões e 2,5 milhões de anos AP e talvez as outras linhagens as quais incluiriam o Homo rudolfensis e até o Homo erectus.

Homo habilis: Originou-se a cerca de 2,5 milhões de anos AP e se extingiu 1 milhão de anos depois, o Homo habilis, era muito semelhantes aos seus ancestrais mais simiescos mas, significantemente, e talvez de forma diferente de seus antecessores, os quais usavam materiais pré-existentes como ferramentas, o Homo habilis parece ter feito suas ferramentas lascando as pedras a fim de dar-lhes o formato desejado. É bem provável que esses hominídeos fossem carniceiros em vez de caçadores, inteligentes o suficiente para antecipar o comportamento de seus predadores, como leões e leopardos, e outros carniceiros, portanto, moviam-se rapidamente para capturar seu alimento, antes ou depois de outros animais.

Homo erectus: Medindo, em média, 1,7 metros de altura, o Homo erectus reteve o crânio simiesco (testa achatada, toro supra-orbital pronunciado) e mandíbula (sem queixo) de seus predecessores, mas seu crânio havia aumentado em relação ao crescimento total do corpo, levando a um maior desenvolvimento cerebral, o que forneceu a plasticidade necessária para que se adaptassem aos diferentes ambientes e para sua ampla dispersão. Se os predecessores foram originados no leste da África como demonstram as evidências, eles teriam de ter viajado a pé, aproximadamente de 4.800 km a 12.000 km para chegar a Algéria ou a Java e Pequim. A descoberta e utilização do fogo para cozinhar e aquecer e o uso de ferramentas mais eficientes foram fatores cruciais para sua sobrevivência pois esses ambientes variavam desde a umidade dos trópicos  e a aridez do norte da África até a frigidez do norte da China e Europa. Também é provável que a caçada de grandes animais requeresse planejamento e coordenação, sugerindo algum mecanismo de comunicação, talvez até uma forma primitiva de fala e, muito importante para nossa história, é esta espécie que muitos antropólogos acreditam ter dado origem aos humanos contemporâneos.

Homo sapiens neanthertalensis: Os Neandertais apareceram primeiro a cerca de 150 mil anos. Eram mais baixos e fortes comparados aos humanos modernos, com a forma do corpo robusta e musculosa (tórax largo, articulações largas e membros curtos), facialmente tinham testa curta, nariz largo e saliente, tórus supra-occipitais proeminentes e queixo curto. O cérebro é do mesmo tamanho dos H. sapiens sapiens atuais, entretanto era aumentado de forma diferente. Parecem ter sido muito mais fortes que os humanos modernos fabricavam instrumentos de pedra cada vez mais sofisticados, como as ferramentas industriais do tipo molsteriano (bater, apunhalar e cortar), tinham uma sociedade organizada, não se sabe se tinham a capacidade para uma linguagem complexa, mas foram os primeiros humanos conhecidos a enterrar seus mortos provavelmente com rituais.

Homo sapiens sapiens: chegou à Europa e à Ásia entre 40.000 e 30.000 anos atrás. Em relação à origem dos humanos modernos, alguns cientistas acreditam em um modelo multirregional para a evolução humana, enquanto outros acreditam em uma única origem africana. Na primeira teoria, populações locais já diferenciadas de Homo erectus que viviam em regiões distintas evoluíram independentemente. Na segunda teoria, ocorreu uma onda de migrações para fora da África, substituindo o Homo erectus na Ásia e os neandertais na Europa. Análise de materiais fósseis indica, provavelmente, uma única origem africana, que também é sustentada pela hipótese da Eva mitocondrial e o cromossomo Y, na qual a análise de DNA de pessoas de todo o mundo mostra que todos são descendentes de uma única mulher que viveu na África há 170.000 anos e a análise de uma sequência de 2600 pb do cromossomo Y indica que todos os machos humanos são descendentes de um único indivíduo. Isso não significa que havia apenas uma mulher ou um único homem, mas que apenas seus descendentes conseguiram sobreviver e se estabelecer nas condições que existiam na época.

Evolução cultural

 

Consiste em mudanças do comportamento fundamentadas no aprendizado cultural das sociedades e não em alterações de freqüências gênicas dos indivíduos, podendo ser tanto vertical (dos mais velhos para os mais jovens) quanto horizontal (imitações de práticas entre irmão e companheiros do mesmo grupo).

Obviamente, aspectos culturais e genéticos podem em determinadas ocasiões interagir. Por exemplo, muitos povos asiáticos são geneticamente incapazes de metabolizar produtos derivados do leite, excluindo-os de sua dieta tradicional.

A evolução cultural diverge da evolução biológica em pontos muito importantes, sendo o mais marcante que a evolução cultural é lamarckiana: comportamento, a língua e as peculiaridades adquiridas por um indivíduo é passada para seus descendentes. Dessa forma a evolução cultural ocorre de uma forma muito mais rápida e perceptiva que a biológica.

Todavia, a evolução cultural é muito mais intricada do que a evolução biológica porque as sociedades adotam os hábitos umas das outras e porque, inclusive, ela impõe um tipo de herança integrada. 

É bastante evidente que a cultura humana se modifica com o decorrer dos séculos. A priori esse movimento pode parecer natural, talvez até esperado. No entanto alguns cientistas acreditam que algumas dessas mudanças se deram por um processo semelhante à seleção natural, ou seja, traços culturais, que de alguma maneira beneficiam determinada população, sobrevivem e são passados para a próxima geração. 

Algumas características culturais têm suas freqüências aumentadas não somente devido à transmissão cultural, mas porque elas influenciam  no crescimento e na dispersão das populações, como, por exemplo, a agricultura tornou possível que populações pastoris alcançassem densidades populacionais maiores do que comunidades de caçadores-coletores.

Na evolução genética, ocorre uma mudança numa característica à medida que os números relativos de indivíduos com um ou outro genótipo são alterados e as propriedades da população freqüentemente são a somatória das propriedades dos indivíduos que a compõe. Mas os eventos culturais não são simplesmente resultados de alterações numéricas e o comportamento não pode ser interpretado como sendo meramente uma conseqüência dos desejos e das condutas dos seus membros.

Dessa forma, segundo Richard Dawkins, no seu livro O gene egoísta, os traços culturais podem ser classificados em unidades menores, similares aos genes. Essas unidades de cultura, chamadas de meme, podem sofrer um processo de seleção natural na medida em que o traço cultural expressado pelo meme é de certa forma importante para determinada população. Tomando como exemplo a higiene, são bastante evidentes os benefícios que a higiene nos traz. Manter hábitos como tomar banho com regularidade, lavar as mãos antes de se alimentar e medidas similares, evitam uma série de problemas com contaminação por agentes nocivos ao homem.

Cabe ressaltar que qualquer meme transmitido sofre alterações, as idéias fundamentais transmitidas, por mais simples que sejam não é a mesma a partir do momento que é recebida.

Sendo assim, podemos concluir que não há maneiras de saber quais desses avanços culturais estiveram associados com alterações genéticas na capacidade de pensamento, imaginação e conscientização. A evolução cultural não possui fronteiras e não há qualquer forma de prever que rumo tomará no futuro.

 

Características físicas e mentais da evolução humana

 

Características humanas podem ser conseqüências da lentidão do processo de maturação que distingue os humanos de outros primatas. Essa demora na maturação pode ser conseqüência da seleção para grande capacidade de aprendizado (seleção para “inteligência”), que é, de longe, nossa característica mais importante.

À medida que as habilidades mentais  foram sendo aprimoradas no processo evolutivo, deve ter acontecido uma seleção para mudanças de características morfológicas, tais como a estrutura da mão, onde a destreza manual evoluiu de forma a se adequar a evolução cultural adquirida.

Assim o aumento da capacidade cultural, propiciou aos seres humanos moldarem um meio social cada vez mais complexo e variável que, seguramente, trouxe novas pressões seletivas intensas.

Exemplo dessas pressões seletivas pode ter sido o aumento na competição e a agressão entre os grupos hominídeos primitivos, forçando assim um desenvolvimento das capacidades de raciocínio e habilidades mentais cada vez maiores.

Dessa forma podemos inferir que o aumento das habilidades mentais pode estar diretamente relacionada com o aumento das habilidades motoras e desenvolvimento físico.

Comportamento Humano

 

As condições culturais humanas têm influenciado e continuam influenciando a evolução biológica, como tamanho da população, fluxo gênico.

Com relação ao comportamento, poucas questões atraem tanto interesse quanto essa: como nosso comportamento pode ser limitado pelos nossos genes.

Argumentos abordam dois problemas distintos, um no qual a questão é se diferenças entre indivíduos e grupos em relação à inteligência ou comportamentais são baseadas em diferenças genéticas, ou outra, onde é questionado se uma característica humana aparentemente invariável é determinada pelo genoma, o que se entende por “natureza humana”.

A questão de alguma coisa ser natural remete a existência de uma essência dos seres vivos, que se amolda a eles em maior ou menor grau.

A natureza humana inclui qualquer ação que os mesmos façam, desde sua orientação sexual até seu comportamento agressivo ou não e a não ser que se considere que esses padrões de comportamento teriam relação genotípica, nenhuma pessoa pode ser considerada mais “natural” que a outra. Isto também se deve ao fato de não existir um critério claro para definir naturalidade ou não.

Dito isso, podemos considerar que devido a nossa capacidade ampla de aprendizado, e mudança rápida de conceitos culturais, o padrão de reação comportamental do genótipo humano é muito amplo.

 

Referências Bibliográficas

 

DAWKINS, R. O Gene Egoísta. Itatiaia Editora

FLUTUYAMA, D.J; Biologia evolutiva. (coord) VIVO, M. MELO, F. 2ed. Ribeirão Preto. Funpex-Rp, 2002. p. 301-324.

POUGH,F. H; JANIS, C.M; HAISER, J. B. A vida dos vertebrados. 6 ed. São Paulo. Atheneu, 2003. p. 7-12.

KORMONDY, E. J.; BROWN, D. E. Ecologia Humana. São Paulo. Atheneu, 2002



publicado por Sérvio Pontes Ribeiro às 12:00
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Quarta-feira, 1 de Dezembro de 2010
Seminário Turma 2010 Bacharelado - Evolução e Filogenia

Evolução e Filogenia

As filogenias expressam relações ancestrais entre espécies.

Segundo Mark Ridley, “...uma filogenia mostra com qual espécie (ou grupo de espécie) uma determinada espécie, ou um determinado grupo de espécies, compartilha o ancestral comum mais recente”.

O termo filogenia é atribuído à situações onde deseja-se testar hipóteses evolutivas, e assim, determinar as relações ancestrais entre espécies viventes ou extintas. “As filogenias são inferidas usando-se de caracteres que são compartilhados pelas espécies” (Ridley, 2006). E tais caracteres podem ser: Morfológicos (técnica cladística), cromossômicos e moleculares.

Uma análise morfológica pode ser atribuído à espécies viventes e também fósseis. Esta análise consiste em um certo número de caráter cada um com um certo número de estado, por exemplo, um caráter pode ser a estrutura do membro anterior e o estado pode ser com asas ou braços. Um outro exemplo a ser citado, (refere-se a um caráter que não seja estritamente morfológico, mas está relacionado ao modo de vida) um caráter pode ser modo de reprodução e ele pode ter os estados viviparidade, oviparidade.

A escola clasisitica foi introduzida pelo entomologista alemão Willi Henning em 1966. Onde Hennig procurou criar um método de forma a implementar os conceitos de Darwin- ancestral-descendente, ou seja, uma forma coerente de representar a filogenia. Hennig redefiniu o grupo monofilético e apresentou dois novos conceitos: apomorfia e plesiomorfia. De acordo com a Sistemática Filogenética, os grupos são sempre monofiléticos e baseados em sinapomorfias. Não são admitidos os grupos parafiléticos e polifiléticos. As tecnicas cladistica baseam-se em caracteres morfologicos para inferir filogenias.

Nem todos os caracteres para os quais temos evidências indicarão uma filogenia. Na análise de um carater é preciso destinguir qual carater é confiável ou não. Para a cladística, o carater mais confiável é aquele que chamamos de homologia derivada, porém, podemos nós deparar com homologias ancentrais e as homoplasias.

Homologia é um carater compartilhado por duas ou mais espécies que estavam presente no ancestral comum a eles.  Homoplasia: carater compartilhado por duas ou mais espécies que não estava presente no ancestral deles. (Ridley, 2006)

As homologias se diferenciam de homoplasias por vários aspectos. Como as homoplasias não inferem filogenia torna-se necessário reconhece-las.

Após ter sido feita esta distinção e as homologias estarem definidas, deve-se então, distinguir homologias ancestrais e derivadas. Para a cladística o carater mais confiável é aquele que chamamos de homologia derivada. Analisando o exemplo: considere o número de dígitos dos pés de uma rã, de um cão e de um cavalo. A rã e o cão têm os pés padrão de tetrápodas, com cinco dígitos. Esse é o estado ancestral de todos os tetrápodas. Os cavalos reduziram o número de digitos, ficando com apenas um. A condição tetápoda é uma homologia ancestral, está presente no ancestral comum às três espécies, porém, não determina uma relação filogenética. Se ao estudamos as relações entre uma rã, um cão e um peixe, a condição de cinco digitos já não é uma condição ancestral. Tal condição não esta presente no ancestral comum às três espécies, sendo então, uma condição que surge no grupo em estudo, portanto, é uma homoloiga derivada.

Polaridade.

Um carater tem dois estados e descobrir qual dos estados é ancestral ou derivado é descobrir sua polaridade.

Comparação com grupo externo:

  

As espécies 2 e 4 compartilham o carater a’ e as espécies 1 e 3 o carater a. Saber se foi o carater a que evolui de a’ ou se foi a’que evolui de a. Basta realizar a analise de grupo externo.

O grupo externo deve ser aquele estreitamente relacionado ao grupo em estudo.

Neste caso, leva-se em consideraçao o Princípio da Parcimonia. “A filogenia mais parcimoniosa é aquela que requer o menor numero de modificaçoes evolutivas”(Pough, 2006). Se o caráter a é ancestral e esta presente no descendente é provavel que o carater tenha permanecido constante durante o tempo evolutivo da espécie, do que tenha sofrido varias modificações no mesmo período e retornado a condição a.

Documento fóssil:

“A condição ancestral de um caráter tem de ser precedido às condições derivadas e , portanto, a condição mais antiga do documento fóssil provavelmente é ancestral”. (Ridley,2006).

 Quando mais completo o registro fóssil, mais precisa será a análise da polaridade.

Outras maneiras de inferir filogenia:

  • Cromossomicos: Análise do numero ou estrutura de cromossomos das espécies em estudo.
  • Molecular:

Através do sequenciamento de proteínas quanto de DNAs podem inferir filogenia. Para isso, o método mais utilizado é o de distânicas moleculares. Através de hibridização de grandes moléculas de DNA pode-se determinar as distância moleculares.

-Desnatura-se o DNA de suas especies em estudo;

-Uniaõ das fitas simples do DNA das duas espécies formando um DNA fita dupla híbrido;

-Desnatura-se o DNA híbrido.

Quanto mais semelhantes forem os DNAs de duas espécies, mais forte será a ligação entre elas e mais alta a temperatura necessária para separá-las.”( Ridley, 2006)

Esse processo é realizado com outras duplas de espécies, assim, é produzida a matriz de distância. “Essa matriz é tranformada em filogenia, pressupondo-se que os DNAs mais semelhantes têm ancestrais comuns mais recentes”. (Ridley, 2006)

Escola evolutiva:

Esta escola é um misto de fenética e filogenética.

Ela incorpora tanto elementos fenéticos quanto filogenéticos e elementos parafiléticos e monofiléticos.”( Ridley, 2006).

“A classificação fenética agrupa as espécies somente por sua semelhança quanto a atributos observáveis” (Ridley, 2006), não levando em conta aspectos evolutivos. Deste modo, esta escola considera os grupos polifiléticos e parafilético. Essa condição não é rejeitada pelo cladismo. Os grupos  de classificação filogenética são monofiléticos.

Segundo Colin (2000):

Um grupo monofilético: Em cladística, chama-se monofilético a um clado (que pode ser um táxon no sentido da taxonomia de Lineu) que, de acordo com o conhecimento mais recente sobre as suas características anatómicas e genéticas, inclui todas as espécies derivadas de uma única espécie ancestral, incluindo esse mesmo ancestral.

Exemplo: O agrupamento dos répteis e aves formam um grupo monofilético porque descendem de um ancestral comum

Um grupo parafilético: Em cladística, chama-se parafilético a um táxons que inclui um grupo de descendentes de um ancestral comum em que estão incluídos vários descendentes desse ancestral porém não todos eles.

Exemplo: O grupo dos répteis não inclui as aves que apresentam o mesmo ancestral comum. Se acrescentar as aves tornar-se-a um grupo monofilético.

Um grupo polifilético: Em filogenética, chama-se polifilético a um grupo que não inclui o ancestral comum de todos os indíviduos. É um grupo monofilético do qual se retirou um grupo parafilético. Em outras palavras, é a reunião de dois ou mais grupos monofiléticos. Pode-se acrescentar que um grupo polifilético é aquele em que seus integrantes possuem vários ancestrais comuns, um em cada grupo.

Enfim, é um táxon definido por uma semelhança que não foi herdada de um antepassado comum. Trata-se de um termo da linguagem corrente que designa um conjunto de espécies que apresentam carácteres comuns, mas que agrupam clados de origens variadas e, deste modo, decorrem de uma noção científica invalidada pela análise filogenética ou mesmo clássica.

A formação destes grupos permite descrever um modo de vida e das adaptações comuns, resultante de uma convergência evolutiva.

Os grupos polifiléticos não são universalmente aceitos nas classificações modernas, embora sejam empregados em obras de divulgação e inclusive em livros textos.

             

Na escola evolutiva, a definição de grupos parafiléticos a inclusão ou exclusão de grupos é feita fenéticamente.

A classificação fenetica é considerada idealista pelos evolucionistas, portanto, neste aspecto, evolucionistas discordam dos feneticistas. Mas os evolucionista aceitam os grupos parafiléticos, assim como feneticistas.

 

EVOLUÇÃO FILOGENETICA DOS BOVINOS AUTÓCTONES PORTUGUESES

Rotas de povoamento do planeta pelos bovinos

                É hoje aceito pela maioria dos investigadores que a formação da espécie bovina ocorreu na Ásia Menor e que de lá partiu para os vários pontos do globo, segundo duas formas e em épocas substancialmente diferentes.

                Primeiro irradiou, à medida que ocorria o  degelo,  sob  a forma selvagem e, depois, já no decurso dos grandes movimentos migratórios do Homem após o neolítico, sob a forma de animal doméstico.

                O primeiro movimento  do Bos primigenius, fez-se em duas direções. Uma dirigiu-se para  o continente africano dando origem  ao Uro Africano, com a designação de Bos taurus primigenius opisthonomus, e outra para o continente europeu segundo duas rotas: pelos Urais, após  ter percorrido, para Norte, o Ocidente Asiático; e pelo estreito de Bósforo, ao longo do Mar Mediterrâneo.

                A forma que se desenvolveu posteriormente na Europa, o Uro-europeu, foi designada por Bos taurus primigenius primigenius. A  forma que permaneceu na origem foi designada por Bos primigenius namadicus.

                Para alguns investigadores, terá sido o desmembramento ecológico do Bos primigenius,provocado pela sua distribuição por uma área tão vasta.

                Assim, na Ásia foram identificadas duas formas: uma designada por Bos desertorum e outra por  Bos primigenius. A primeira, também conhecida por  Bos asiaticus (a mesma forma ou forma posterior do Bos primigenius namadicus) foi descrita como possuindo a cabeça tipicamente "primigénica" mas com a variante na forma dos cornos. A segunda apresentava muitas características do primigenius.

No continente europeu, identificaram-se,  em paralelo à forma inicial “primigénica” formas derivadas diretamente desta, o  Bos taurus brachycerus, o  Bos akeratus e o  Bos frontosus

                O  Bos taurus brachycerus encontrado fossilizado, no neolítico inferior,teria sido a primeira forma a derivar do primigenius,e foi descrito por GARCÍA-FIERRO (1956), como uma forma subcôncava, de pequenas proporções e baixo peso, de pêlos de cor castanha com extremidades pretas, pêlos estes que se vão tornando grisalhos nas axilas e no focinho. A cabeça apresentava a fronte triangular, abobadada, de marrafa sobrelevada e curta, onde se destaca o triângulo parietal devido à "invasão" dos parietais para a região do frontal. Os cornos eram curtos assim como os seus suportes. As arcadas orbitais inseriam-se logo na parte superior da linha média da fronte

                O  Bos frontosus da idade do bronze, também  designado  por  Bos de Aquitânia por SANSON é tido como uma forma combinada  do  primigenius com  brachycerus.

 

Origem dos bovinos atuais

 

                Por um lado as teorias que defendem,que os bovinos domésticos descendem de diversas formas ancestrais (teorias polifiléticas) e por outro as que lhes atribuem uma única (teorias monofiléticas).

                As teorias difilética e a polifilética. A  primeira defendeu que  eles descendiam, paralelamente, de duas formas pré-históricas o  Bos  taurus primigenius e o  Bos taurus brachycerus. A segunda, a teoria polifilética, defendeu a evolução da espécie a partir de várias formas primitivas, três, quatro ou, mesmo mais

A teoria monofilética baseou-se no princípio da ascendência a partir de uma única forma ancestral selvagem designada, vulgarmente, por aurochs ou urus que, por sua vez, teria sido um descendente direto do Bos taurus primigenius.

                Para os defensores da teoria polifilética, o processo de domesticação sucedeu   simultaneamente em vários lugares do globo e, logicamente, a partir das formas locais. Para os apologistas da teoria monofilética o processo  localizou-se no continente asiático,  mais precisamente  na  Índia, Ásia Menor e Egipto, coincidindo com focos de antigas culturas dos vales férteis dos rios Indus, Eufrates, Tigre e Nilo

 

Origem das raças bovinas portuguesa

 

                Segundo DO VALE (1906), a raça Mirandesa, Maronesa e Brava, tiveram a sua origem nos bovinos ibéricos, diretamente no caso das raças Brava e Mirandesa e, indiretamente no caso da Maronesa.

                Assim, pela análise das características étnicas (inserção, tamanho e forma dos  cornos, perfil  e  proporções  da cabeça, relação entre o peso e a superfície de pele, determinada pela existência ou não de pregas no pescoço, extensão da barbela e da prega umbilical), distinguem se quatro grupos, formados a partir de “rotas  evolutivas”  diferentes, designados por troncos étnicos, sendo um específico e três subespecíficos

O grupo específico, é formado pela população que hoje definimos por raças Barrosã e Cachena, cuja forma e tamanho dos cornos, elevada elasticidade da pele, grande desenvolvimento da barbela e da prega umbilical e finura dos membros, apontam para a descendência directa da espécie Bos namadicus (de onde descende também o Bos indicus) ou  Bos opisthonomus conforme a interpretação que se der à formação dos três grandes troncos étnicos. Nos três grupos subespecíficos incluem-se todas as demais raças portuguesas.

 

 

Referências:

n  RIDLEY, Mark. Evolução. 3 ed. Porto Alegre. Artmed, 2006. p.447- 515.

n  POUGH,F. H; JANIS, C.M; HAISER, J. B. A vida dos vertebrados. 6 ed. São Paulo. Atheneu, 2003. p. 7-12.

n  FLUTUYAMA, D.J; Biologia evolutiva. (coord) VIVO, M. MELO, F. 2ed. Ribeirão Preto. Funpex-Rp, 2002. p. 301-324.

n  ALAVES, V.; Evolução Filogenética dos Bovinos Autóctones Portugueses. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real - Portugal

n  Figuras: disponível em 01/12/2010: http://pt.wikipedia.org/wiki/Polifil%C3%A9tico



publicado por Sérvio Pontes Ribeiro às 16:55
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